“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” Rubem AlvesEspalhar o terror com homens bombas é um ataque rápido e fatal. Mas nem por isso deixa de ser mais avassalador que outro grande golpe traiçoeiro e covarde, muito comum em terras brasileiras: O roubo do direito de aprender. O desprezo às escolas públicas e à educação. Desprezo sim. Porque é possível investir bem mais do que se investe. É só olhar para a Ásia para ter certeza do que se ganha ao se priorizar verdadeiramente o conhecimento e as letras. A Coreia do Sul fez uma revolução com livros e lápis, e se tornou uma potência. Em três décadas, o número de alunos no ensino superior multiplicou-se 12 vezes naquele país. Se os recursos destinados às Olimpíadas de 2016 e à Copa de 2014, aproximadamente 50 bilhões de reais, caíssem nas salas de aula, talvez o Brasil pudesse deixar o vergonhoso 53o lugar no quesito educação, conquistado numa prova que avalia estudantes de 65 países. Isto sim, presidente Dilma, seria priorizar a educação. Mostrar aos brasileiros que, antes de fazer festa, é preciso arrumar a casa por dentro. Chega de fachada! O que vai fazer o Brasil do futuro brilhar? Será que sempre seremos só os melhores em futebol e samba? As novas gerações de brasileiros estarão condenadas a este castigo? É possível construir mais escolas, investir na formação dos professores, e isto é papel do poder público. Pagamos impostos. Penso que as miseráveis fatias do orçamento que nossos governantes municipais, estaduais e federais distribuem ao ensino matam bem mais do que as cinematográficas ações terroristas arquitetadas por Bin Laden. Matam o direito à cidadania. O direito ao conhecimento. Condenam à cegueira do analfabetismo funcional 28% dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos. Gente que sabe ler e escrever, mas não consegue interpretar textos nem usar a matemática para resolver problemas do seu dia a dia. Não adianta o Brasil produzir cada dia mais petróleo, minério de ferro, aço, ouro, álcool, soja... Enfim, não adianta ser a sétima maior economia do mundo, faturar alto com exportações e negócios internacionais, se o nosso povo não sabe pensar nem pode se sentar à mesa da intelectualidade mundial. Pelo menos não sem desempenhar o papel de bobo da corte. No Brasil, a educação é desconectada do “projeto de país”, não é vista como uma estratégia para o desenvolvimento, mas como um fim em si mesmo, como um quase direito do cidadão, e ponto. E olhe lá. Se o Brasil não se transformar numa nação universitária, continuará sendo um país fraco, vítima de um “Bin Laden” que promove um terror que não explode, mas implode, mata por dentro... Pastor que conduz seu rebanho para o abismo. Quem será que vai dar um fim definitivo ao “Bin Laden” do Brasil? Ele tem várias caras, por pura vaidade... Não foge de ninguém, nem vive escondido nos buracos de metrôs e nas cinematográficas cavernas do cerrado brasileiro. Esconder-se? Imagina. Entre nós, ele não precisa se dar a esse trabalho... Muitos até o consideram fundamental para seus planos políticos. Nosso “Bin Laden” é um velho conhecido das mulheres e dos homens poderosos que governam nosso país; vive livre, leve e solto, perambulando embaixo dos nossos narizes. * Lucius de Mello é escritor, jornalista, mestrando em Literatura Hebraica na USP e pesquisador do LEER - Laboratório de Estudos sobre etnicidade, racismo e discriminação da Un.de São Paulo




